quinta-feira, 15 de maio de 2014

A topologia dinâmica de Gilbert Simondon - apresentação amanhã, às 12:30, na PUC-Rio


Como alguns já sabem, em minha tese de doutorado investigo as chamadas câmeras inteligentes (smart cameras). Amanhã apresento uma parte do que será o terceiro capítulo da tese na Semana Acadêmica de Filosofia da PUC-Rio. A partir de alguns contextos de utilização das smart câmeras - sobretudo aqueles em que a ação das câmeras inteligentes prescindem da visualização de imagens por atores humanos (um exemplo do que estou falando pode ser visto aqui) -, pareceu-me oportuno investigar o estatuto destas imagens com respeito às relações topológicas que estabelecem com o que é diferente delas, seja o contexto que elas monitoram, seja, em um plano mais especulativo, com todas as demais imagens do mundo.


A concepção de imagem como representação e, neste sentido, exterior e segunda em relação ao objeto representado parece insuficiente para dar conta das câmeras inteligentes, que são operativas, performativas e pró-ativas. Por conta disso, a topologia relativa proposta por Gilbert Simondon pareceu uma porta de entrada interessante para reivindicar a contiguidade das imagens inteligentes ao mundo. Embora já tivesse lido Simondon, só percebi a rentabilidade de sua topologia para pensar nas inflexões contemporâneas da técnica a partir deste artigo de Fernanda Bruno.

Na apresentação de daqui a pouco só falarei das câmeras inteligentes para introduzir o contexto a partir do qual Simondon me interessa. Me deterei mais em sua filosofia da individuação que, sendo tão complexa, é sempre um desafio pelo esforço de clareza requerido. Abaixo, uma pequena amostra do que propõe Simondon:

Recusando uma topologia que suponha um interior e um exterior absolutos, Simondon propõe, no domínio da individuação do organismo vivo, diversas camadas de interioridade e de exterioridade: “o espaço das cavidades digestivas é uma exterioridade em relação ao sangue que irriga as paredes intestinais; mas o sangue é por sua vez um meio de exterioridade em relação às glândulas de secreção interna que derramam os produtos de sua atividade no sangue”. Dentro e fora, interior e exterior são, portanto, forjados através de uma “mediação transdutiva de interioridades e exterioridades”. Esta topologia inscreve no vivo uma heterocronia que não coincide com a experiência linear do tempo subjacente às abordagens substancialistas e hilemórficas do ser individuado. O espaço interior aparece como a cristalização de uma sucessão temporal passada, na medida em que, o que foi produzido pela individuação no passado integra o conteúdo do espaço interior que, por sua vez, está em contato com o conteúdo do espaço exterior, que pode advir. A exterioridade é, assim, um futuro e o presente é, por fim, “esta metaestabilidade da relação entre interior e exterior, entre passado e futuro", relação que caracteriza os processos de individuação.

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